A invisibilidade é o retrato do capacitismo”. Foi com este tema que o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) realizou a campanha virtual “Estou Aqui” para combater práticas capacitistas no cotidiano. As ações, que começaram no Dia Internacional das Pessoas com Deficiência (03/12), são iniciativa da Secretaria Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência (SNDPD). Com encerramento nesta quinta-feira (17), a campanha é uma das entregas do Novo Viver Sem Limite permanece com a missão de perpetuar e fortalecer a luta contra o preconceito.
Ao longo de duas semanas, diversas pessoas com deficiência puderam compartilhar suas próprias vivências e experiências para chamar a atenção para a invisibilização que sofrem no dia a dia e fazer um convite ao público para acompanhar e fazer parte da luta anticapacitista.
Conhecida como Pequena Lô, a influenciadora digital Lorrane Silva é uma das participantes da campanha. Nos vídeos publicados nas redes sociais do MDHC, ela cita um dos inúmeros casos que exemplificam o capacitismo, como é chamada a discriminação contra as pessoas com deficiência. “Nossa, ela é assim desse jeito, mas ela é inteligente, né?”, conta sobre o que ouviu de um taxista na primeira vez que foi a São Paulo, em companhia da mãe.
“Eu sempre fui muito observadora, então eu percebi que tínhamos passado do hotel, avisei ao taxista e ele fez o retorno. Quando descemos do carro, ele virou para minha mãe e falou: ‘ela é assim desse jeito, mas ela é inteligente, né?’. Primeiramente, eu estava ali, as pessoas acham que nós, pessoas com deficiência, somos invisíveis”, enfatizou.
Pequena Lô completa que, após o “comentário”, a mãe perguntou para o taxista: “Assim como, senhor? Ela faz faculdade de psicologia, ela tem capacidade de conversar, ela é inteligente”. A influenciadora afirma que o homem ficou “sem graça” e foi embora. “O capacitismo é isso, é como as pessoas nos veem. Eles acham que as pessoas com deficiência não têm a capacidade de ter uma vida, inteligência, de se formar, ter amigos, namorar, viver”, completa a influencer.
Nomenclaturas
Desde 2006, o termo “pessoa com deficiência” é o correto e a sociedade deve adotá-lo a fim de combater o capacitismo. O uso da expressão foi estabelecido pela Convenção Internacional sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Durante os anos, foram muitas as expressões utilizadas de forma pejorativa, referindo-se à condição física, ou na perspectiva médica ou moral, ou uso de termos genéricos.
Capacitismo
Tratar pessoas com deficiência como se precisassem de cura, ridicularizá-las e não promover políticas públicas voltadas para elas configura capacitismo. Falta de acessibilidade e de inclusão é capacitismo. Olhares de pena, de exclusão, falta de acesso a oportunidades, também são práticas capacitistas.
No âmbito das ações que visam o anticapacitismo, há termos e questionamentos que devem ser evitados, como, por exemplo, “seu problema não tem cura?” – pois assumir que pessoas com deficiência precisam de uma solução ou milagre é considerado capacitismo médico –; “que amor esse casalzinho com Down” – já que ridicularizar ou infantilizar as pessoas com deficiência configura capacitismo recreativo; ou “ele não dá conta de acompanhar a turma” – tendo em vista que não promover acessibilidade às pessoas com deficiência nos espaços e organizações ou privá-las de políticas públicas é capacitismo institucional.
Parcerias
Promovida pelo Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), a campanha “Estou Aqui: A invisibilidade é o retrato do capacitismo” tem a participação de influenciadores digitais, entre eles, Lorrane Silva, a Pequena Lô; Jéssica Borges; Tatá Mendonça; Angelo Santos; Tathi Piancastelli; Cláudia Werneck; Dudu (Eduardo Victor); Geisa Farini; entre outros.
Há ainda collabs com o Almanaque SOS, sobre o cordão de girassol; com o Ministério da Educação (MEC), referente à educação inclusiva; e com o comunicador, humorista e ativista Naam Paim, abordando o tema Acessibilidade Comunicacional e o uso da Língua Brasileira de Sinais (Libras).
Números
No Brasil, são aproximadamente 18,6 milhões de pessoas com deficiência, representando cerca de 9% da população. Mas apesar do número expressivo, essas pessoas ainda são invisibilizadas e os desafios são profundos, evidenciados por dados preocupantes: apenas 25,6% concluíram o ensino médio e 29% estão no mercado de trabalho, em comparação com 66% da população sem deficiência no ambiente laboral.
Para enfrentar esse cenário, o Governo Federal reforça o movimento para combater a discriminação e promover a inclusão. O objetivo é sensibilizar a população a partir das perspectivas de quem vivencia o capacitismo, promovendo a reflexão e incentivando mudanças de comportamento, com o intuito de contribuir para uma sociedade mais justa e igualitária.
Comportamento
Promover o anticapacitismo no dia a dia não é tarefa complicada, e para combater a discriminação é simples, por exemplo: ao conversar com um usuário de cadeira de rodas, você deve se sentar para que a pessoa com deficiência não tenha que olhar para cima; ao ver um cão-guia passeando com o tutor, não desvie a atenção do cachorro por nenhum motivo; quando estiver com uma pessoa com deficiência acompanhada, não é necessário que o acompanhante seja o interlocutor, fale diretamente com a pessoa.
Mais algumas práticas que podem ser adotadas: ao encontrar uma pessoa cega, você só deve tocar na pessoa se ela assim te orientar; e se tiver um usuário de cadeira de rodas próximo a você, somente toque na cadeira de rodas com a autorização do usuário. Se você já faz essas ações, está no caminho certo para ser anticapacitista e não invadir o espaço privado das pessoas.
Denuncie
Caso tenha sofrido ou presenciado qualquer tipo de violência capacitista, denuncie. O Disque 100 (Disque Direitos Humanos) recebe denúncias de violações de direitos humanos por meio de ligação gratuita; pelo WhatsApp (61) 99611-0100; pelo Telegram (digitar “direitoshumanosbrasil” na busca do aplicativo); e pela página da Ouvidoria Nacional de Direitos Humanos (ONDH), no site do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania. Em todas as plataformas, as denúncias são gratuitas, anônimas e recebem um número de protocolo para que a pessoa denunciante possa acompanhar o andamento da denúncia diretamente com o Disque 100.
Texto: R.O.
Edição: F.T.