Reunião formal com três pessoas na mesa principal e duas de costas, usando notebooks.

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) participou, nessa quarta-feira (5), de audiência pública da Comissão de Educação do Senado Federal que avaliou a Política Pública “Compromisso Nacional Criança Alfabetizada” (CNCA), com foco no eixo de infraestrutura física e pedagógica. O encontro reuniu representantes do Ministério da Educação (MEC), do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), de entidades municipalistas e de pesquisa, destacando desafios relacionados à inclusão e às condições de ensino nas escolas públicas brasileiras.

Ao abordar o tema da alfabetização inclusiva, a secretária nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência, Anna Paula Feminella, ressaltou a importância da acessibilidade como condição essencial para garantir o direito à educação de todas as crianças.

“A educação é um direito fundamental que impacta em todo o ciclo de vida do indivíduo. Garantir que as crianças estejam alfabetizadas no tempo escolar adequado requer infraestrutura física e pedagógica adaptada, acessível e em condições de atender à meta de alfabetização de todas as crianças, inclusive as crianças com deficiência”, destacou.

Confira a audiência completa.

Investimentos em leitura e infraestrutura pedagógica

O coordenador-geral de Alfabetização do Departamento de Políticas e Diretrizes de Educação Integral, João Paulo Mendes de Lima, destacou que o Ministério da Educação tem concentrado esforços em ações estruturantes que assegurem o acesso à leitura e a materiais didáticos de qualidade, fundamentais para o processo de aprendizagem das crianças.

“O MEC já investiu mais de R$ 177 milhões na instalação de mais de 14 mil cantinhos de leitura em salas do primeiro e segundo ano do ensino fundamental, com expansão agora para a educação infantil. Esses espaços garantem que as crianças tenham acesso à literatura desde os primeiros anos escolares, promovendo o desenvolvimento da imaginação, da escuta e da linguagem. Somando-se a isso, já foram destinados mais de R$ 350 milhões aos estados para a reprodução e distribuição de materiais didáticos estruturados e complementares, reforçando o compromisso do governo com uma alfabetização equitativa e de qualidade em todo o país”, afirmou.

A especialista em Educação Infantil pela USP de Ribeirão Preto e representante da Associação Nacional de Pesquisa em Financiamento da Educação (FINEDUCA), Bianca Correa, acrescentou que a superlotação das turmas, com até 35 alunos por sala, compromete a qualidade da alfabetização e o acompanhamento individualizado das crianças. “Com esse número de crianças, é inviável atender o ritmo de aprendizagem de cada uma e utilizar plenamente os cantinhos de leitura”, declarou.

Acessibilidade e barreiras estruturais

A secretária Anna Paula Feminella também apresentou dados do Censo Escolar que revelam a dimensão do problema: 16,4% das escolas que atendem estudantes com deficiência não possuem nenhum item básico de acessibilidade, enquanto apenas 62,9% têm rampas e 61,2% contam com banheiros adaptados.

“A alfabetização começa com a garantia de que o aluno consegue chegar à sala de aula e usar a escola com autonomia. Sem rampas, banheiros adaptados e salas de recursos multifuncionais, a meta de alfabetização para os mais de 2,7 milhões de estudantes da educação especial pode ser interrompida”, finalizou.

Anna Paula Feminella usa vestido vermelho, fala ao microfone em reunião, com copo d’água à sua frente.
Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado)

Infraestrutura escolar e financiamento

O coordenador-geral de Infraestrutura Educacional do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), Pedro Jader Antony Linhares, explicou que o órgão tem desenvolvido projetos padronizados de escolas e creches acessíveis, voltados à redução das desigualdades estruturais e regionais, já aplicados em diversas localidades do país.

“Os projetos padronizados representam um avanço importante, pois incluem espaços acessíveis, bibliotecas, salas de leitura, áreas de convivência, ventilação adequada e ambientes confortáveis para o aprendizado. Em 2024, o governo federal lançou a primeira etapa com 1.894 escolas e creches, totalizando R$ 91 milhões em investimentos. Já em 2025, foram lançadas mais 505 creches em 455 municípios, reforçando o compromisso com a universalização da infraestrutura educacional e o fortalecimento do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada”, destacou.

Encaminhamentos e perspectivas

A senadora Augusta Brito informou que esta foi uma das cinco audiências públicas programadas pela Comissão de Educação para subsidiar a elaboração de um relatório final com recomendações ao Congresso Nacional e ao Governo do Brasil. O objetivo é fortalecer o regime de colaboração entre os entes federativos e garantir condições estruturais e pedagógicas adequadas para a alfabetização na idade certa, com foco em acessibilidade, inclusão e qualidade.

Compromisso Nacional Criança Alfabetizada

Lançado em junho de 2023 pelo Ministério da Educação (MEC), o Compromisso Nacional Criança Alfabetizada é uma política pública baseada na colaboração entre União, estados e municípios para garantir que todas as crianças brasileiras estejam alfabetizadas até o final do 2º ano do ensino fundamental, além de promover a recuperação das aprendizagens de estudantes do 3º, 4º e 5º ano afetadas pela pandemia. Coordenado pela Secretaria de Educação Básica (SEB/MEC), o programa tem adesão voluntária por meio de termo disponível no Sistema Integrado de Monitoramento, Execução e Controle (Simec).

O CNCA estabelece como princípios a equidade educacional, considerando diferenças regionais, socioeconômicas, étnico-raciais e de gênero, e o fortalecimento da cooperação entre os entes federativos. Entre suas metas, estão alfabetizar na idade certa e recompor aprendizagens nos anos iniciais, pactuar metas de resultados com monitoramento e acompanhamento, garantir apoio técnico e financeiro da União para melhorar a infraestrutura física e pedagógica das escolas, ofertar materiais didáticos e pedagógicos para estudantes e professores, aprimorar os sistemas de avaliação da alfabetização e promover formações continuadas e orientações curriculares.

Texto: M.C.M.
Edição: F.T.