Mulheres com deficiência protagonizam debate sobre direitos e inclusão em encontro nacional
Evento organizado pelo MDHC com o apoio da ENAP, do Fundo de População das Nações Unidas e da ENSP/Fiocruz, reúne especialistas, ativistas e lideranças de todo país para debater inclusão e enfrentamento ao capacitismo. | Foto: Clarice Castro/MDHC
O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC) abriu, nesta terça-feira (25/3), o Encontro Nacional de Mulheres com Deficiência: Protagonismo sem Limite. O evento, que segue até quarta-feira (26) no auditório da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), em Brasília, visa fortalecer redes de apoio e debater o acesso a políticas públicas para mulheres com deficiência.
Na abertura do Encontro, a ministra Macaé Evaristo destacou que as desigualdades sociais e estruturais afetam a vida das mulheres de diversas formas, especialmente quando se trata de mulheres negras, com deficiência e de outros grupos e marcadores sociais. “Sabemos que a nossa sociedade se faz sobre uma construção histórica, patriarcal, patrimonialista, racista e capacitista. Então, quando nós estamos falando de mulheres nas suas diferentes mulheridades, sabemos que as violações de direitos vão existir com intensidades diferenciadas. Portanto, esse encontro se reveste de uma importância fundamental para denunciar o capacitismo, a intolerância, a violência e ajudar a construir políticas públicas”, disse.
A secretária nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, Anna Paula Feminella, ressaltou que o encontro nacional é uma oportunidade para compartilhar reflexões e conhecer a luta recente pelo protagonismo das pessoas com deficiência, contada pelas próprias protagonistas. “Nós estamos aqui, cada vez mais firmes, com a certeza de que não estamos sós. Quem quer nos impedir o acesso à vida pública não conhece a força da coletividade, não sabe que muitas de nós renascemos todos os dias. Viemos das favelas, dos quilombos, dos territórios ribeirinhos e do isolamento. Somos aquelas que foram esquecidas, mas que se atreveram a estar em todos os ambientes. Agora, lutamos por equidade, nos unimos por uma vida digna e por um mundo justo para todas as pessoas”, destacou.

 Apoios

O encontro conta com o apoio do Ministério da Gestão e da Inovação em Serviços Públicos (MGI), por meio da ENAP, do Fundo de População das Nações Unidas (UNFPA) e da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP/Fiocruz). A programação conta com painéis sobre enfrentamento à violência, capacitismo, além de palestras sobre direitos e inclusão.
A presidente da Enap, Betânia Lemos, ressaltou a importância do evento ser realizado 10 anos após a primeira edição. “Foram necessários dez anos para que pudéssemos estar aqui de novo. Isso é muito simbólico, sobretudo porque entendemos que a administração pública funciona com a participação da sociedade civil”, afirmou.
A representante do UNFPA no Brasil e Diretora de País para o Uruguai e o Paraguai, Florbela Fernandes, destacou a necessidade de combater as múltiplas formas de discriminação enfrentadas por mulheres com deficiência. “A discriminação e a violência contra mulheres com deficiência estão relacionadas a desigualdades de gênero, ao capacitismo e a outras dinâmicas de poder que impedem o pleno exercício de seus direitos”, afirmou.
Laís Silveira Costa, representante da ENSP/Fiocruz, reforçou a importância da produção de conhecimento aliada à participação ativa das mulheres com deficiência para enfrentar desigualdade. “A gente reconhece a importância de avançar com as políticas universais a partir da perspectiva da interseccionalidade e dos marcadores sociais. Entendemos que, em qualquer lugar que olhamos, a criança, a menina e a mulher com deficiência são mais vulnerabilizadas, mais vitimizadas e desacreditadas. Então, o que a gente tem feito é produzir conhecimento científico e atuar na formação, fazendo isso sempre ao lado das próprias pessoas com deficiência”, pontuou.

Protagonismo e diversidade de vivências

A abertura do Encontro Nacional de Mulheres com Deficiência contou com a presença de integrantes da Comissão de Defesa dos Direitos das Pessoas com Deficiência da Câmara dos Deputados, lideranças e mulheres com deficiência de todas as regiões do Brasil. Entre elas, Maria Clara Carvalho, de Goiânia, ressaltou a importância do protagonismo feminino na luta por reconhecimento. “É fundamental que as mulheres com deficiência estejam à frente, se mostrem e busquem visibilidade. Estamos aqui para dizer que somos fortes e qualificadas. Tinha 29 anos quando fui vítima de um acidente de carro. Hoje, olho para minhas filhas, que na época tinham cinco e dois anos, e sinto orgulho da mulher que sou hoje”, relembrou.
A administradora Ana Paula Trindade, moradora de Boituva, no interior de São Paulo, e mulher com deficiência visual, também destacou a relevância do encontro como espaço de escuta e troca de experiências. “Eu acho imprescindível ter diferentes lugares de fala, porque cada mulher tem uma vivência diferente, de acordo com sua territorialidade. Precisamos ouvir essas mulheres e entender o que as afeta nos lugares onde estão inseridas”, afirmou, ao relatar os desafios de acessibilidade em sua cidade.

Confira a programação completa do evento:

Texto: T.A.
Edição: F.T.